O legado da reconstrução
Por Alfredo Pessi
O papel da construção civil e do mercado imobiliário no desenvolvimento das cidades é tão importante que exige um senso de responsabilidade, conhecimento e envolvimento com as comunidades por parte de quem atua no setor. E aquele trabalho que deve ter um propósito maior por trás, já que deixa um legado não só para quem usufrui dos imóveis, mas também para populações inteiras.
Quando acostumado a erguer e povoar prédios, casas e edificações em geral, é difícil lidar com as imagens que temos visto desde o início de maio no Rio Grande do Sul. São mais de 170 vidas perdidas até o momento em centenas de municípios devastados. Tijolos no chão, famílias sem abrigo, empresas fechando as portas e tantos gaúchos procurando forças para recomeçar – muitos do zero.
Com a infraestrutura das cidades fortemente impactada, as frentes de trabalho se multiplicam a cada novo desafio que aparece. E, neste momento, a união faz mesmo a força. Poder público, iniciativa privada e os milhares de civis que têm atuado na linha de frente para dar conta de segurar o que a água não levou.
O setor da construção civil, por meio de suas instituições representativas e das próprias empresas, tem contribuído com as demandas emergenciais, inclusive com a abertura de espaços para abrigos. Também com banheiros químicos, colchões, cobertores e geradores. Apoiando com sua expertise, inclusive com engenheiros dedicados à recuperação das estações de tratamento de água em Porto Alegre.
Mas o estado precisa de mais, e as entidades já preparam uma atuação de longo prazo – que ajude a restabelecer a ordem o quanto antes. O foco principal: as pessoas! E essencial trabalhar em duas frentes: construir casas em até 90 dias e desburocratizar os recursos do Minha Casa Minha Vida, programa de habitação popular do governo federal.
A jornada não será breve. Não será fácil. Cobrar do passado não resolverá o futuro. Olhar para a frente com resiliência e cooperação é o único caminho para a reconstrução. Tenho esperança de que, a partir de agora, trabalharemos para deixar um novo legado: o compromisso com o planejamento, a manutenção das cidades, o cuidado com as pessoas e a capacidade de se adaptar as transformações do mundo. Juntos, vamos criar alternativas para construirmos cidades mais seguras para as próximas gerações.
* Artigo publicado na editoria de opinião, em 2 de julho de 2024, no Jornal do Comércio.